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segunda-feira, setembro 18, 2006

Chefe da missão no Mundial satisfeito com atletas lusos

Superação. Esta é a palavra que melhor descreve a forma como os atletas com deficiência abordam a vida e o desporto. A prestação da Selecção Portuguesa nos Mundiais de atletismo que decorreram em Assen (Holanda) é a prova disso mesmo, com cinco medalhas conquistadas e apuramento de nove atletas para os Paralímpicos de Pequim em 2008.

Uma vez mais ficou demonstrado que, também no desporto para deficientes, Portugal continua a dar cartas. Em entrevista ao ND, o director-técnico nacional, Jorge Carvalho, faz um balanço da competição, confessa existir alguma falta de compreensão do Estado relativamente às necessidades dos atletas deficientes e perspectiva o futuro, afirmando-se esperançado numa cada vez maior oferta de modalidades.


Norte Desportivo - As expectativas que tinha relativamente à prestação portuguesa nos Mundiais da Holanda foram confirmadas ou considera que ficámos aquém do esperado?

Jorge Carvalho - Fizemos melhores resultados do que em Atenas, onde conseguimos três medalhas no atletismo. Nessa altura podemos verificar que o nível competitivo é cada vez maior, para além do número de países e participantes também estar a aumentar para o bem do atletismo e desporto para deficientes. Isso pôde ser confirmado na Holanda onde estivemos ao mais alto nível. Muitos dos nossos atletas melhoraram a marca pessoal ou o recorde nacional, mas outros conseguiram obter melhores marcas, até a nível mundial. Pelos resultados que alcançamos neste mundial e pelo facto de termos garantido numa primeira fase as cotas para Pequim, tanto em masculinos como em femininos, considero que estivemos muito bem. Ao nível dos contratos que temos com o governo em termos do projecto Pequim, estamos dentro dos objectivos. Deixa-nos muito satisfeitos saber que estamos a cumprir perante o Estado. Por outro lado, esta participação insere-se no projecto «Super Atleta» que apoia os atletas que se encontram no plano de preparação paralímpica e aqueles que estão em busca de quilificação. Foi graças a esse apoio que conseguimos ter nesta delegação um maior número de participantes.

N.D. - No último Mundial (Lille), a Selecção arrecadou 12 medalhas, mais sete do que aquelas que foram agora alcançadas. Isso não o deixou desapontado?

J.C. - O facto de termos conquistado mais medalhas em Lille não me preocupa. Tínhamos como referência Atenas 2004, que foi o último grande evento. Superámos essa participação, pelo que estamos satisfeitos. A nossa meta é Pequim 2008, prova para a qual conseguimos as cotas, para além de termos garantido um maior número de atletas com qualidade.

N.D. -
O técnico nacional referiu que, no que diz respeito ao atletismo para deficientes, “acabou-se o tempo das vacas gordas” e que se caminha a passos largos para “o lugar do atletismo regular português”. Concorda com esta visão?

J.C. - Podemos verificar que temos uma boa classificação no ranking mundial e não só no atletismo. Houve uma ligeira descida em Atenas, mas a posição de Portugal é confortável a nível mundial e europeu. Estamos à frente de muitos países ricos como a Noruega ou a Suécia, pelo que podemos dizer que temos um bom nível. Gostávamos de nos aproximar do dito atletismo regular. Daí o objectivo em termos de captação de novos praticantes.

N.D. -
Esse futuro está a ser devidamente salvaguardado?

J.C. - É evidente que nos preocupa a renovação dos atletas. É uma preocupação constante a captação de novos praticantes e já estamos a apostar no futuro com o programa «Esperanças Paralímpicas Londres 2012». Infelizmente, o nosso país tem a mais baixa taxa de prática desportiva, pelo que precisamos de nos preocupar com o aspecto da captação, não só numa perspectiva de alto rendimento mas enquanto direito humano...enquanto direito das pessoas com deficiência terem acesso ao desporto. Sabemos que os obstáculos são muitos e prendem-se com as barreiras arquitectónicas, a questão da mobilidade no meio urbano e em termos de transportes e a falta das ajudas técnicas. Quando dizemos às entidades públicas que um nosso atleta precisa de duas ou três cadeiras, perguntam-nos: “Mas não lhe basta uma cadeira?”. É óbvio que não. É precisa uma cadeira para andar no dia-a-dia e, depois, são necessárias outras para treinar e competir... não se pode ir para uma prova apenas com uma cadeira.

N.D. -
Considera que o público em geral começa a ver com outros olhos o desporto praticado por atletas com deficiência?

J.C. - Está a ganhar espaço, embora o processo tenha vindo a ser lento e muito espinhoso. Infelizmente ainda existem deficientes que continuam escondidos em Portugal e essa forma de esconder já é descriminação porque essa pessoa deixa de existir. A pessoa existe quando se torna visível. A nossa preocupação através do projecto «Super Atleta» pretende dar essa visibilidade aos atletas. A legislação promove cada vez mais a igualdade de direitos e existe hoje uma maior adesão em relação à problemática da deficiência em termos da responsabilidade social das empresas. A própria sociedade está mais consciente em reconhecer os direitos das pessoas com deficiência. Por outro lado, há mais mediatização porque se reconhece a beleza e a excelência no desporto. Outro aspecto, não menos importante, é a questão das empresas que, em tempos, se recusavam a associar a sua imagem a atletas com deficiência. Hoje, começam a fazer questão em apoiá-los porque são exemplos da superação.

N.D. - Participou recentemente na Assembleia Geral de Atletismo da IPC enquanto representante de Portugal. O que foi debatido nessa Assembleia?

J.C. - Para além de vários assuntos importantes, relacionados com o atletismo, destaco a grande preocupação com a reestruturação do desporto para deficientes a nível mundial numa perspectiva de aproximação com o desporto regular. Falou-se da inclusão dos atletas deficientes nas estruturas regulares e na inclusão de alguns desportos na Federação Desportiva que rege a modalidade, sempre com a preocupação de salvaguardar os direitos das pessoas com deficiência e a igualdade.

N.D. -
Como avalia o trabalho que tem vindo a ser feito pela federação e que medidas estão previstas para o futuro próximo?

J.C. - Penso que esse trabalho está a seguir a linha correcta, embora tenhamos de compreender que esse trajecto é lento e por vezes complexo. Fiz parte da equipa que lançou o Desporto para deficientes em Portugal, iniciado através da acção das Associações de deficientes, nomeadamente a Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral, (a primeira a participar nos Paralímpicos, em 1984). A Federação iniciou a sua participação em 1992, incluindo outras áreas de deficiência pela primeira vez. Neste momento, com a actual lei de bases que se encontra em discussão, está a ser perspectivada a criação do Comité Paralímpico de Portugal. Este comité leva a alguns desequilíbrios e provoca rupturas mas também vai permitir que as federações de cada modalidade passem a estar nesse Comité.

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Os Medalhados de Assen à lupa

Gabriel Potra (medalha de bronze no pentatlo): “O Potra é um atleta por excelência que inclusive compete no atletismo regular porque é preciso que os nossos atletas tenham um quadro competitivo frequente, o que falta no âmbito da deficiência. É um atleta que com excelente porte atlético, dotado de grande força de vontade e de se superar. Provou-o mais uma vez. É um jovem que ainda tem muito futuro pela frente”.

Carlos Ferreira (medalha de prata na maratona – cegos totais): “Apesar da sua carreira em pista, onde conquistou um recorde do mundo e recorde paralímpico, também dá gosto vê-lo na estrada. Tive oportunidade de acompanhá-lo durante a prova, quer de mota, quer de carro. Para nós que estamos sentados, aquilo parece ser um percurso infindável. Mas ver a persistência daquele atleta é formidável. Apesar de cego, chega a virar-se para trás como se tentasse ver onde estão os adversários, mas sem nunca deixar de impor o seu andamento. Em Assen partiu da última posição e recuperou a partir dos 20 km, até alcançar o segundo lugar”.


Equipa de estafetas (medalha de ouro): “Aqui, o espírito de equipa proporcionado pelo desporto foi preponderante. Tratou-se de uma prova muito disputada...ao milésimo. Mas no final, foi uma alegria imensa quando foi anunciada a vitória de Portugal e a conquista da medalha de ouro”.

Lenine Cunha (medalha de prata salto em comprimento): “O público pergunta-se muitas vezes como é que um atleta com deficiência mental consegue dosear o esforço e definir a estratégia numa situação de competição. No Desporto, ao contrário do que acontece muitas vezes no dia a dia, uma pessoa com esta deficiência e que tem um comportamento tipicamente anti-social pode mudar por completo. Isso demonstra que o Desporto também é uma escola que promove a ética e a relação com os outros. O Lenine é um bom exemplo neste aspecto”.

Ricardo Vale (medalha de bronze nos 10.000 m – cegos totais: “É um jovem cego que entrou para o projecto Pequim com este resultado. Trata-se de um atleta promissor. A prova (realizada na pista) foi muito disputada e à semelhança do que acontece no atletismo regular, tivemos de nos preocupar com a prestação dos atletas quenianos”.


Fonte: O Norte Desportivo

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